A história de Santana do Ipanema conta que, no final do século XVIII, a atual cidade não passava de um arraial, habitado por índios e mestiços. Com a chegada do padre Francisco José Correia de Albuquerque à região (vindo de Pernambuco), os índios foram catequizados e a primeira igreja construída.
Paulo Soares
Em 1815, os irmãos Martins e Pedro Vieira Rêgo, descendentes de portugueses e vindos da Bahia, foram beneficiados pelo rei com uma sesmaria, instalando-se perto da Ribeira do Panema (próxima às serras da Camonga, Caiçara e Gugy), transformando suas terras em grandes fazendas e tornando-se os primeiros colonizadores.
A freguesia data de 24 de fevereiro de 1836, sob invocação de Sant’Ana. Em 1875 passou a ser vila, desmembrada do território de Traipu. A lei 893, de 1921, elevou Santana à categoria de cidade.
O município tem na fé à Nossa Senhora Santana seus maiores atrativos, onde destacam-se como pontos para visitação os Altos da Fé e do Cruzeiro. A Serra da Microondas e a Ponte da Barragem completam o cenário turístico da cidade.
De povo festivo e alegre, Santana do Ipanema tem como presente aos visitantes sua hospitalidade. Suas festividades mais tradicionais são: a Emancipação Política do Município (24 de abril), os festejos juninos, a comemoração do dia da padroeira Nossa Senhora Santana (25 de julho) e a Festa da Juventude (realizada no primeiro Domingo anterior à festa da padroeira)
Paulo Soares
Secretaria de Turismo de Santana do Ipanema
Dados do Município
Situação Geográfica: Mesorregião do Sertão Alagoano. Microrregião de Santana do Ipanema. Limites com Poço das Tricheiras, Canapi, Inhapi, São José da Tapera, Carneiros, Olivença e Dois Riachos. 296 metros acima do nível do mar. O destino conta conforme informações do IBGE com uma população de 46.220 pessoas, com uma densidade demográfica de 105,97 habitantes por quilômetro quadrado.
Festividades: Emancipação Política do Município (24 de abril), festejos juninos, comemoração do dia da padroeira Nossa Senhora Santana (25 de julho) e a Festa da Juventude, Carnaval, Moto Fest, Festa do Leite, Natal e Réveillon.
Pontos turísticos: Altos da Fé e do Cruzeiro, Serra da Microondas, a Ponte da Barragem, Caminho de Nossa Senhora da Assunção, museu, a serra da Camonga, a represa Isnaldo Bulhões, pedra Rica (local de figuras rupestres), a casa da Cultura, a igreja de Senhora Santana.
Devoção a senhora Sant’Ana
Quando nos deparamos com os evangelhos canônicos não conseguimos ver nenhum relato sobre os pais da Virgem Maria. Mas existe um proto Evangelho que relata toda a história da Virgem Maria e dos seus pais Santa Ana e São Joaquim – o proto Evangelho de São Tiago.
Sant’Ana, cujo nome em hebraico significa graça, pertencia à família do sacerdote Aarão e seu marido, São Joaquim, pertencia à família real de Davi.
Seu marido, São Joaquim, homem pio fora censurado pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Sant’Ana já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, São Joaquim retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado ao lar, o casal se encontra à porta dourada de Jerusalém e, algum tempo depois, Sant’Ana ficou grávida. A paciência e a resignação com que sofriam a esterilidade levaram-lhes ao prêmio de ter por filha aquela que havia de ser a Mãe de Jesus.
Os autores medievais vêm no seu beijo casto no encontro na porta dourada o momento da imaculada concepção de Maria. Segundo outras versões, preferidas pelos dominicanos e outros maculistas, não há nenhuma sugestão de que Maria tenha sido concebida de outra forma que não a biológica normal após o reencontro dos seus pais.
Eram residentes em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde hoje se ergue a Basílica de Santana; e aí, num sábado, 8 de setembro do ano 20 a.C., nasceu-lhes uma filha que recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa “Senhora da Luz”, passado para o latim como Maria. Maria foi oferecida ao Templo de Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até os doze anos.
Pelo texto caverna dos tesouros, atribuído a Efrém da Síria, Ana (Hannâ) era filha de Pâkôdh e seu marido se chamava Yônâkhîr. Yônâkhîr e Jacó eram filhos de Matã e Sabhrath. Jacó foi o pai de José, desta forma, José e Maria eram primos.
São João Damasceno, ao escrever sobre o natal, deixa claro que São Joaquim e Santa Ana são os pais de Maria.
A Devoção a Senhora Sant’Ana
A devoção aos pais de Maria é muito antiga no oriente, onde foram cultuados desde os primeiros séculos de nossa era, atingindo sua plenitude no século VI. Já no ocidente, o culto de Santana remonta ao século VIII, quando, no ano de 710, suas relíquias foram levadas da terra santa para Constantinopla, donde foram distribuídas para muitas igrejas do ocidente, estando a maior delas na igreja de Sant’Ana, em Düren, Renânia, Alemanha.
Seu culto foi tornando-se muito popular na idade média, especialmente na Alemanha. Em 1378, o papa Urbano IV oficializou seu culto. Em 1584, o papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant’Ana em 26 de julho, e o papa Leão XIII a estendeu para toda a Igreja, em 1879. Na França, o culto da mãe de Maria teve um impulso extraordinário depois das aparições da santa em Auray, em 1623.
Tendo sido São Joaquim comemorado, inicialmente, em dia diverso ao de Sant’Ana, o papa Paulo VI associou num único dia, 26 de julho, a celebração dos pais de Maria, mãe de Jesus.
A devoção a Senhora Sant’Ana e fundação de Santana do Ipanema
Relatos da terceira edição do “Escorço Biográfico do Missionário Apostólico Padre Francisco Correia”, organizada pelo portal Maltanet, publicado em 2012, com o prefácio do professor Dr. José Marques Melo (1943-2018), dão conta das seguintes proposições: “Endossando a tese proveniente da história oral, disseminada pelo cônego Theotônio Ribeiro(1855-1929), afirma-se que, até que surjam documentos que a contradigam: o fundador da cidade de Santana do Ipanema foi o evangelizador Padre Francisco Correia porque deu início ao processo de povoamento do local. Tudo começou quando o missionário ergueu uma capela em honra à Sant’Ana, nas adjacências da foz do riacho Camoxinga, afluente do rio Ipanema, nos limites da fazenda de criação de gado de propriedade do sertanista Martinho Rodrigues Gaia, com a sua ajuda financeira.”
“Quando o padre Francisco Correia chegou à ribeira do Panema em 1787 para exercer o sacerdócio, trouxe consigo imagens de Senhora Santana e São Joaquim, diretamente da Bahia, a pedido de Ana Tereza, esposa de Martinho Rodrigues Gaia, primeira devota de Sant’Ana da ribeira do Panema, dando início ao que seria uma das mais importantes festas religiosas do interior de Alagoas, celebrada com muito fervor e devoção pelos santanenses.”
De acordo com os registros o Padre Francisco Correia somente passou a residir definitivamente na localidade 25 anos depois. Nesse ínterim, dona Ana Tereza foi a principal guardiã da devoção e das festividades a Senhora Santana, não obstante seu nome não conste da história escrita, o que é uma grande injustiça.
Início das Festas em Louvor a Senhora Sant’Ana
1787 – Construção da Capela pelo fazendeiro Martinho Gaia e sua esposa Ana Tereza com a benção do Padre Missionário Padre Francisco Correia de Albuquerque.
1836 – Fundação oficial da paróquia de Senhora Sant’Ana, logicamente as procissões se tornaram-se oficiais
1900 a 1920 – Primeira reforma da Igreja Matriz de Senhora Santana
1947 – Concluída a segunda Reforma da Igreja Matriz de Senhora Santana e até hoje mantem a forma externa da Igreja.
História do Monumento e Santuário dedicado a senhora Sant’Ana
No ano de 2020, o senhor Isnaldo Bulhões, então Prefeito da cidade de Santana do Ipanema, grande devoto da senhora Sant’Ana resolveu construir um monumento em homenagem a mãe da Virgem Maria, por todas as graças que recebeu através da intercessão da santa. Além disto, era uma forma de entregar a Igreja local e aos fiéis católicos um espaço onde os devotos de Sant’Ana pudessem ir cumprir suas devoções, conforme afirma sua esposa Dr. Renilde Bulhões. No ano de 2021 o senhor Isnaldo faleceu devido a COVID 19, e a sua filha Dra. Christiane Bulhões na condição de vice-prefeita assumiu a gestão de Santana do Ipanema, onde um dos primeiros projetos foi colocar em prática o sonho do seu pai junto com o seu irmão o Deputado Federal Isnaldo Bulhões.
É lindo de ver a família Bulhões conversando sobre o sonho e a devoção do senhor Isnaldo, onde eles mesmos não acreditavam, e diziam que aquilo jamais iria acontecer.
Dra. Renilde, relata que a maior frustração foi quando o projeto arquitetônico foi entregue, e o seu esposo se dirigiu a Caixa Econômica para pegar o recurso que havia sido liberado e aguardava apenas o projeto para o início das obras.
Quando Isnaldo chegou lá os arquitetos não haviam inserido o estudo do solo, e não havia mais prazo para refazer o projeto, onde o dinheiro teve que retornar para o Governo Federal. Isnaldo saiu dali com uma grande frustração e triste. Mas no outro dia estava com a pasta do Projeto em mãos, para onde ia levava aquela pasta e entregava nas mãos de Deus e da senhora Sant’Ana, confiante que aquela promessa de devoção um dia iria ser realizada. Relata a Dra. Renilde.
O santuário e a Imagem da senhora Sant’Ana
Estive presente na obra e realmente é algo de surpreender, principalmente referente ao processo de construção que deu início no mês de fevereiro deste ano e se encontra bastante avançado, já com previsão de inauguração para janeiro de 2025. A imagem vai ter 57 metros de altura, se tornando a maior imagem dedicada a Sant’Ana do mundo e a princípio a maior imagem Católica das Américas.
O Santuário irá conta com uma Central do Peregrino, que conta com praça de alimentação. Lojas de artigos religiosos, capela das velas, sala dos ex votos, capela para celebração da Santa Missa, um elevador que leva as pessoas até a base do coração da senhora Sant’Ana onde o romeiro, peregrino e o turista poderão ver toda a cidade. Outro ponto bastante importante é a chegada dos peregrinos e romeiros, que irá contar com um apoio de um transporte para leva-los até a imagem. Como a área próxima à imagem não tem espaço para estacionamento, os ônibus, vans e carros de passeio irão ficar no estacionamento feito antes da chegada da imagem e uma van pegará os visitantes. Todo o espaço está sendo preparado com carinho e atenção pensando não apenas no Peregrino, mas nos Guias de Turismo e motoristas, onde será construído um espaço para descanso dos mesmos.
Mas se o peregrino, não quiser ir de carro e fazer um momento de subida a pé, poderá ir rezando e meditando com a passagem da Via Sacra que terá até a décima quinta estação.
É um local preparado para a oração e devoção a Sant’Ana, queremos que aqui as pessoas possam se encontrar com Deus. Somos católicos e queremos estar junto com a Igreja e suas orientações, afirma Dra. Renilde Bulhões.
Impulsionamento do turismo local e regional
O turismo religioso vem alcançando cada dia mais destaque no Brasil e no mundo, nos últimas informações do Ministério do Turismo o segmento do Turismo Religioso está em quinto lugar dos mais procurados no Brasil.
Como pesquisador, consultor e representante da ASSIMPTUR no que se refere ao Turismo Religioso, afirmo que o destino de Santana do Ipanema irá potencializar o Turismo na Região da Caatinga em Alagoas, além de atrair um forte público devoto da senhora Sant’Ana. Hoje o destino conta com 620 leitos, com restaurantes com uma diversidade gastronômica incrível, além de vários roteiros e atrativos turísticos que poderá prender o turista pelo menos três dias no destino. Acredito que a economia local terá um grande avanço e impacto positivo, pois podemos perceber a unidade entre o poder público e privado que estão de mãos dadas para que o Turismo de Santana do Ipanema se desenvolva cada vez mais.
Acredito muito no impacto que a Imagem da senhora Sant’Ana trará para o nosso destino, e vejo a necessidade de cada um fazer a sua parte, nós enquanto gestão pública acompanhar e gerar as políticas públicas necessárias para o desenvolvimento do turismo e fornecermos infraestrutura turística adequada, por isso temos trabalhado incansavelmente na sinalização turística e pensado na adequação do transito. Além de querermos contar com um posto de saúde no Santuário para cuidar dos visitantes. Sabemos que só a prefeitura não poderá fazer isto, por isto a necessidade de uma parceria público privada, onde faremos a nossa parte, a empresa que vencer a licitação para administra o Santuário a sua, a Igreja em conduzir o povo de Deus e acolhe-los. Nós estamos provendo e incentivando esta unidade. Comenta a prefeita Dra. Christiane Bulhões.
Realizo visitas a Tamandaré, fazemos grupos duas a três vezes no ano devido a acolhida que recebemos na cidade. Santana do Ipanema é um destino acolhedor e prestativo isto é o diferencial principal além dos equipamentos turísticos a acolhida. Acredito que a imagem da senhora Sant’Ana irá esquentar a economia da cidade mais ainda atraindo investidores e principalmente o fortalecimento dos empreendedores e investidores locais. Pois o mais interessante para nós é que o investimento em novos empreendimentos venha de nossa população, relata Josinaldo Soares, presidente da Associação Comercial de Santana do Ipanema – ACSI.
O Nordeste é um grande celeiro de fé, onde encontramos Romarias e Peregrinações no Brasil, ali está em sua maioria o povo nordestino. Um povo resiliente, que com certeza o que impulsiona a este povo continuar lutando, sorrindo e se ajudando mutuamente mesmo nas dificuldades é a fé. E isto é o que resumo toda esta obra em Santana do Ipanema em Alagoas, a fé de um homem em cumprir seu voto com a mãe da Virgem Maria e avó de Jesus Cristo, se ergue um Santuário e monumento no sertão Alagoano para que as pessoas possam depositar seus pedidos e orações.
Meus agradecimentos ao professor Marcelo pela contribuição nesta matéria ao enviar a história da devoção de Sant’Ana em Santana do Ipanema.
Texto por: Manoel Sidnésio, turismólogo especializado em Turismo Religioso
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